Segundo levantamento do Instituto Península, de março de 2020, são cerca de 2,2 milhões de docentes no país enfrentando o novo cotidiano das aulas online no período de distanciamento social. O estudo aponta que a pandemia alterou a rotina de mais de 48 milhões de alunos da rede básica brasileira.
O estudo aponta que oito em cada 10 educadores não se sentem preparados para ensinar a distância e que se sentem ansiosos e inseguros. Outro fator que tem gerado mais insegurança, tanto para docentes, quanto para os pais e responsáveis, é pensar em como será possível aplicar provas e avaliar os estudantes nessa modalidade de educação.
O cenário atual exige novas formas de avaliação, diferentes daquelas que avaliam o final do processo e os educadores já estão traçando novos caminhos para que a avaliação aconteça e que todo o percurso seja avaliado, em diferentes etapas e com propósitos distintos. Nesse contexto, as avaliações realizadas durante as dinâmicas educacionais permitem aos professores tornar visível o real aprendizado, os dados coletados facilitam esse processo de avaliação, mesmo a distância.
“Dentro dessa lógica, para garantir que o processo avaliativo ocorra de forma integral é importante que sejam avaliados três elementos do processo de aprendizagem: participação (engajamento e colaboração), desenvolvimento (acompanhamento da evolução da aprendizagem: a avaliação formativa) e resultado. Esse conjunto resolve uma equação que possibilita uma avaliação mais integral e construtiva”, aponta Camila Akemi Karino, diretora pedagógica da Geekie e pesquisadora-colaboradora do programa de pós-graduação do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da UnB.
A avaliação contínua é uma possibilidade de analisar os estudantes ao longo de todo o percurso da aprendizagem. Akemi aponta que para a avaliação da participação a distância deve-se levar em consideração; “presença e interações nos momentos síncronos; interação nos encontros virtuais; e colaboração com membros da turma são indicadores a serem utilizados pelos professores. Investir nessa forma de pensar é ter um ciclo mais completo do impacto da educação. Um ponto importante é que esse processo seja claramente apresentado ao aluno. Todo processo avaliativo precisa ser transparente, inclusive para fortalecer a autonomia e as escolhas dos alunos”.
Já para medir o desenvolvimento da aprendizagem, analisar a evolução em diferentes momentos e utilizando várias estratégias parece ser um excelente caminho que pode ser trilhado analisando as devolutivas claras dos alunos que possam gerar as evidências do domínio de assuntos e do desenvolvimento de habilidades. “Um bom instrumento que permite um registro contínuo do desenvolvimento é os portfólios”, sugere Akemi.
Como resultado o docente terá uma avaliação do ponto em que o estudante conseguiu chegar ao final de um processo (que pode ser bimestral, por exemplo). O resultado que antes era mensurado através de provas, agora pode ser avaliado através de um relatório de pesquisa ou até mesmo o portfólio, pois trarão indício da assimilação dos conteúdos por parte dos alunos. As provas ainda podem ser aplicadas, mas para ter mais certeza de que o aluno está sendo fidedigno ao que aprendeu, uma alternativa é trabalhar com questões abertas e que avaliem níveis cognitivos mais avançados. “É importante ressaltar que resultado é o conjunto do que foi desenvolvido ao longo de um tempo determinado”, lembra Akemi.
“A avaliação desses três elementos – participação, desenvolvimento durante o processo e resultado de aprendizado – engloba, de modo geral, os principais aspectos que precisam ser considerados em um processo educativo que valoriza não apenas a conclusão, mas o envolvimento e o esforço ao longo da jornada” conclui a diretora pedagógica.
Akemi aponta ainda uma forma de avaliação mais integral, não levando-se em conta apenas o cognitivo: “Trabalhar com “Cor, símbolo e imagens” incentiva os alunos a associar alguma situação específica com sentimentos. Ao tornar essa emoção visível, o docente pode avaliar e atuar para além do cognitivo. Vale pensar que o momento síncrono não precisa ter turmas iguais ao ensino presencial. Com ajustes na grade que auxiliem o professor a agrupar alunos de outras formas, esse educador terá mais tempo e mobilidade para estreitar a proximidade com os estudantes; poderá, ainda, identificar melhor os aspectos socioemocionais de jovens e crianças”.
Mesmo diante do desafio da avaliação á distância, essa é a oportunidade para os professores diversificarem os métodos avaliativos, fugindo um pouco do modelo que avalia o contexto final, sem levar em consideração todo o processo. O momento é de buscar novos caminhos, lembrando sempre de facilitar o processo ensino-aprendizagem para que a aprendizagem seja o resultado do processo.